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Afogando no raso

     Abro o Instagram. O relatório digital de 2024 da Meltwater me diz que o Brasil está entre os países que mais utilizam redes sociais, 3 horas e 37 minutos por dia. 3 horas e 37 minutos. Mas abro o app do Instagram e um tsunami de vídeos de pessoas registrando sua própria vida inunda a tela do meu celular. Pessoas que moram no interior, mas são vaidosas, registrando sua ida até a cidade pra fazer as unhas; pessoas que querem a opinião do público para decidir se utilizarão a roupa A, B ou C; pessoas expondo partes bem selecionadas e produzidas daquilo que supomos, porque somos levados narrativamente a pensar, ser o cotidiano de suas vidas. O eu tornou-se um espetáculo.      A autoridade cultural tornou-se centrada na autoimagem, não porque tais influenciadores têm de fato realizações pessoais, mas pela estética da vida. Existir tornou-se uma vitrine. Mas não a existência cotidiana, rotineira, crua, a existência produzida pra engajar. E por que a existênci...